1910 a 1919
- Almanaque de Canela
- 18 de abr. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 3 de abr.
1912
O sonho do trem toma forma

No começo do ano, João Corrêa e seu filho João Manoel, o Janguta, começaram a planejar a linha férrea que uniria Taquara a Canela. A firma João Corrêa e Filhos vendeu 20 colônias de pinhais para a Companhia Florestal para levantar fundos para a construção da via, que dois anos depois, em 1914, inaugurou o trecho Taquara-Sander. Mas, com o início da Primeira Guerra Mundial, as obras só foram retomadas em 1916.
1913
Um povoado crescia no Caracol
O primeiro sinal de desenvolvimento turístico de Canela ocorreu no Caracol, local de ambiente muito calmo, habitado por aproximadamente 350 pessoas, a maioria delas descendentes de Guilherme Wasem. A tranquilidade do local passa a ser substituída pelo movimento de pessoas, que compravam terras da Família Wasem, e pela implantação da Companhia Florestal para a extração de madeira da região. Com isso, a localidade passa a contar também com novos moradores, trabalhadores das serrarias, juntamente com as suas famílias.

No Caracol, a Companhia Florestal Rio-Grandense adquiriu terras nos anos de 1913 e 1914, instalando cinco serrarias e abrindo estradas que ligavam o Caracol a outras localidades, para a passagem das carretas puxadas por várias parelhas de bois carregadas de toras de madeira. As serrarias eram movimentadas e motorizadas por meio de rodas giratórias, com água dos arroios.
A Linha Banhado Grande
Com a entrada da Companhia Florestal, a região começou a receber mais moradores, e se intensificou a exploração das matas de araucária e a instalação de serrarias para o beneficiamento das madeiras. Todo o entorno desta grande área passou a ser povoado em função destas atividades. A Companhia Florestal contratou Helmut Schmitt, prático em locação de estradas e instalações de serrarias, para planejar e executar diversas estradas, entre elas a que ligava a localidade do Caracol até o Banhado Grande, e dali até o Saiqui, pela estrada Tubiana.

1916
Taquara e Sander
Inaugurado o trecho de 20km da estrada de ferro entre Taquara e Sander, que facilitou a chegada dos veranistas ao hotel e pensões que existiam em volta do Caracol.


O Primeiro Hotel do Caracol
Com a ampliação do ramo madeireiro, mais pessoas aproveitaram o progresso para se instalar na região do Caracol, para fixar residência e abrir novas empresas de comércio. Com isso, veio a necessidade de se construírem pensões para atender aos clientes das serrarias e também os turistas que começavam a chegar em busca de frio e neve. Para atender a essa demanda, Alvino Sonnenstrahl inaugurou o primeiro hotel do Caracol, sendo vendido pouco depois para Roberto Werner e conhecido como Hotel e Pensão Werner
Para os apreciadores de caça e pesca — que havia em abundância — e para as famílias que permaneciam em torno de dois a três meses no Caracol, o hotel oferecia chalés, cancha para esportes, cavalos para passear pelo Caracol, natação em uma piscina natural no poço do Arroio Caracol, e até uma orquestra.

Uma das comodidades oferecidas pelo Hotel e Pensão Werner aos veranistas foi o fato de serem recebidos pela direção do hotel na estação de trem em Sander, Três Coroas. Após descerem do trem, eram conduzidos até o hotel no Caracol. A viagem levava em torno de oito horas.
Nasce o Grande Hotel Canela

Foi no Natal de 1916 que Dona Luiza Burmeister Corrêa, vendo o turismo prosperar com os hotéis e pensões do Caracol e acostumada a receber em sua casa os importantes convidados do marido João Corrêa, enquanto ele vivia em constantes viagens para conseguir trazer o trem para a serra, decidiu transformar a sua casa em Hotel. Assim foi gerado o embrião do Grande Hotel Canela, o primeiro do Campestre.

1917
A Escola do Caracol
Com a população do Caracol crescendo, também houve a necessidade de aulas para aprenderem a ler e escrever. Havia os filhos dos trabalhadores das madeireiras e dos moradores locais. Pedro Franzen, dono de terras no Caracol e do Castelinho, cedeu um local para a construção de uma escola, e assim surgiu a Escola Isolada do Caracol, que teve como professores primários Bruno e Amélia Boelter. Anos após, Cora Franzen, filha de Pedro, assumiu as aulas e passou a ensinar aproximadamente 60 crianças do ensino primário. Em 1943, a escola passou a denominar-se Escola Rural Isolada do Caracol.
1918
No Banhado Grande
Nico Narciso tinha uma considerável área de terra. Junto com Narciso Ferreira, Adolino Wilchen e Reinoldo Muller, foi um dos doadores do terreno para a construção da Capela Santa Cecília, situada à frente do mesmo lugar escolhido para fazer sua propriedade.
A casa servia para residência, casa de comércio e salão de baile. No local também funcionou um açougue, sendo que foram conservados no porão os ganchos para pendurar as peças de carne, instalados nas vigas de madeira falquejada, e no térreo as antigas prateleiras do armazém, segundo relatou a atual proprietária da casa, Margarida Weber, onde hoje funciona o Alecrim.
1919
O Trem chega na Várzea
João Corrêa e seus filhos conseguem fazer o trem chegar a Várzea Grande. Mas nesse ponto haveria um grande problema: a subida da montanha era um desafio que os mais renomados engenheiros não acreditavam ser possível transpor. Mas João Corrêa, para quem nada parecia ser impossível não desistiria, mesmo que para tanto esgotasse seus recursos e sua saúde. E conseguiu, com uma ideia inédita: O Rabicho!
O Rabicho

O Rabicho era um trecho muito emocionante da estrada de ferro que chegava em Gramado e Canela. Havia uma subida tão íngreme a ser vencida que a marcha do trem precisava ser invertida para poder subir. Quando chegava à Várzea Grande, as pessoas desciam do trem e iam refrescar-se e lanchar em um armazém com vinhos, queijos, salames e doces que ficava próximo. O trem por sua vez, subia uma rampa de marcha à ré para pegar força. Depois que passava esse pedaço tenebroso, as pessoas voltavam a subir no trem e seguiam viagem.
O Álbum do Trem

O Correio do Povo do dia 11 de julho de 1919 publicou uma notícia sobre um interessante álbum, confeccionado pela agência Kosmos, contendo 84 fotos tiradas com muita nitidez mostrando os vários aspectos da construção da via férrea Taquara a Canella, de propriedade de João Corrêa e Filhos. Esse álbum existe até hoje em perfeito estado de conservação e pertence ao acervo do Grande Hotel Canela.
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