Na década de 20 a vida no Caracol fervilhava. Havia os Hotéis e Pensões, Werner, Heunsler, Gürsching, havia as serrarias, moinho, ferraria, hortas, tambos e até armazém de mercadorias.
1921
As modernas bicicletas - Práticas e de preço acessível, as bicicletas tornaram-se populares como meio de transporte dentro da cidade e nas estradas. Conta-se que o Pastor Wolf, da Comunidade Evangélica São João de Canela, que tinha uma disposição invejável, visitava as famílias do centro circulando de bicicleta
O trem chegou até Gramado
Mas os recursos de João Corrêa para fazê-lo chegar a Canela se esgotaram. O Estado encampou o trecho que já existia pagando uma miséria a João e seus filhos e não tomou nenhuma iniciativa para seguir até Canela onde a Estação já estava pronta e no trecho, tudo preparado para receber os trilhos. Novamente João Corrêa precisou levantar junto a particulares da comunidade a quantia necessária para acabar a obra.
1922
Revolta dos 18 do Forte de Copacabana: levante de militares contra o Presidente Epitácio Pessoa e seu sucessor Artur Bernardes. Considerada a primeira revolta do Movimento Tenentista.
1923 – Eclodiu a Revolução Libertadora, deflagrada contra Borges de Medeiros.
Posse de Borges de Medeiros
no Rio Grande do Sul leva ao
conflito armado conhecido
como Revolução de 1923.
1924
O trem chega a Canela trazendo o progresso
Finalmente a chegada do trem e a inauguração da Estação Canella aconteceram em 14 de agosto de 1924, com a presença da comunidade e de autoridades regionais. O apito do trem soava 2 km antes, e ao chegar o maquinista tocava o sino, para alegria da população que lotava a plataforma. A chegada do trem deu grande impulso ao desenvolvimento de Canela. Passar as férias ali virou status para os porto alegrenses.
Como era o trem:
O trem que vinha a Canela tinha locomotiva e mais quatro vagões. Dois para passageiros, um para carregar as malas e outro destinado ao Correio e mantimentos. Também havia o trem que era somente de carga, trazendo de Porto Alegre materiais de construção, areia e outros, retornando com madeira para Porto Alegre farinha de trigo e erva-mate.
O trem de carga movimentava a economia da cidade carregando diariamente toneladas de madeira. Na época abundante, a madeira era extraída de São Francisco de Paula e Espigão Preto. As serrarias de Luiz Wender, Domingos Fellipetti, Roberto Secco e Marçal Santos beneficiavam as toras cortando e dando o formato de taboas de araucárias e caneleiras para que seguissem viagem. Saiam de Canela por dia, sete vagões carregados de 60 dúzias de taboas. A madeira era responsável pela prosperidade da região.
As novidades vinham de trem
A chegada do trem em Canela era sempre uma festa. As moças e rapazes vestiam seus melhores trajes e ao ouvir o apito corriam para a Estação. Sempre havia novidades para ver. A expectativa pela chegada de cartas e encomendas era enorme. De Taquara a Canela o trem parava em sete estações: Igrejinha, Mundo Novo, Sander, Agente Allan, Maquinista Maura, Várzea Grande e Gramado. Tinha gente local que pegava o trem só para passear na novidade!
Nota de Rodapé: A história completa de João Corrêa e da construção da Estrada de Ferro Taquara/Canela está contada no livro Uma História de Canela, escrito para a comemoração do Centenário do Grande Hotel Canela e encontra-se a venda no mesmo.
1924
Os Hotéis
Com a chegada do trem, aumentou o interesse dos turistas e dos viajantes pela região central de Canela. As oportunidades aumentaram e começaram a surgir mais hotéis.
O Hotel Feltes é um exemplo: localizado na área central, além de hospedagem, oferecia aulas de ginástica, realizava bailes e era um ponto de encontro de amigos. Esse local não era de uso exclusivo de veranistas, era também muito frequentado pelos moradores locais.
1926
O Clube Serrano – Parte 1
A pequena comunidade cresceu e em 1926 foi fundado o Esporte Clube Serrano com intensa vida social. Idealizado por Orestes Travi, jogador de futebol do Clube Juventude de Caxias do Sul. O vínculo de Orestes Travi com Canela era inicialmente comercial, pois tinha uma fábrica de caixas de madeira. Mas como era jogador, não queria deixar de lado o esporte e junto com alguns amigos deram início ao clube. Nos primeiros tempos o Clube Serrano funcionava em um salão de madeira onde, na parte da frente, eram realizados os bailes e, na parte dos fundos, os jogos de bolão, bocha e sinuca.
A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes
A construção da primeira Igreja, onde hoje é a Catedral de Pedra, era composta por três naves e teve início em 1926 nos terrenos doados por Dona Luiza Corrêa, esposa de João Corrêa. Em sua homenagem a Igreja seria dedicada a Beata Luiza de Marillac, porém próximo a data da inauguração, em 1938, constatou-se que Santa Luiza não era canonizada e, portanto, não poderia ser a padroeira. Por consenso foi decidido então pela escolha de N. Sra. de Lourdes como a titular da Igreja.
Um dia muito especial!
Canela foi elevada a condição de Distrito no dia 2 de março de 1926.
A sessão inaugural foi em 14 de março e a cidade passou a ser a sede do Sexto Distrito de Taquara. Quem ocupava o cargo de intendente de Taquara era João Manoel Corrêa, o Janguta, filho de João Corrêa. Com a influência que exerciam junto ao Partido Republicano de Borges de Medeiros e a alegação que a administração do 5° Distrito, por sua grande extensão territorial e crescente população, pelo grande desenvolvimento comercial e industrial, especialmente nas áreas do Caracol e de outros núcleos coloniais, se tornava penosa para um só subintendente, conseguiram a criação do novo distrito.
Uma reprodução na íntegra
do documento encontra-se
exposta na recepção do
Grande Hotel Canela onde
aconteceu a sessão.
É interessante ver através das assinaturas mais legíveis, desfilarem os nomes dos mais eminentes cidadãos de Canela, cujos descendentes até hoje têm representatividade na comunidade. As assinaturas de homens como João Corrêa Ferreira da Silva, Major Nicoletti Filho, Coronel Diniz, Pedro da Silva Nunes, Luiz Wender, Manoel Wasem, Antônio Gallas, Willy Fleck, Canuto da Silva Nunes, Oscar Bauer, Helmut Schmitt, Orestes Travi, e muitos outros não deixam dúvidas de que aquele foi um momento histórico para a cidade.
1928
Morre João Corrêa Ferreira da Silva no dia 17 de março, em São Leopoldo.
1928
Mais uma Escola
A região central de Canela também ganhou uma escola denominada de Aulas Públicas de Canella, para atender a demanda de alunos que moravam nas imediações e, principalmente, filhos de trabalhadores do comércio local. O professor Eduardo Gans cedeu parte de sua casa para o funcionamento da escola, que também abrigava um posto telefônico. A escola era de ensino primário e misturava na mesma sala alunos de diferentes idades e níveis de aprendizado que recebiam atividades diferenciadas propostas pelo professor.
Na imagem alunos das Aulas Públicas de Canella acompanhados do professor Eduardo Gans e das duas professoras, Odila Cachoeira e Sueli Cardoso.
1929 – Saúde! - O local onde as pessoas inicialmente eram atendidas, em 1929, era um pavilhão de madeira e tinha como responsável o Dr. Rufino Bezerra.
A educação das crianças
Nas três primeiras décadas do século XX, o Rio Grande do Sul ocupava o terceiro lugar na economia nacional, mas o índice de analfabetismo beirava os 70%. O governo da época praticava o discurso “ensine quem quiser, onde quiser e como puder”, pois acreditava que qualquer indivíduo, desde que soubesse ler, escrever e calcular poderia ensinar o que quisesse e em qualquer lugar. Foi assim que nos lugarejos que se desenvolveram em torno das madeireiras, em Canela, surgiram as primeiras aulas.
Em 1930 os professores das escolas isoladas, Carlos Wortmann, Eduardo Gans e Maria Frida Haack, viram a possibilidade de união das escolas e de sua transformação em um grupo escolar.
Foi criado o primeiro Grupo Escolar, denominado João Corrêa, e a para abrigar duas aulas que ocorriam separadamente, mas a Escola Isolada do Canelinha por ser mais distante para os alunos não se uniu.
Cidade das Hortênsias
Canela recebeu o título de “Cidade das Hortênsias” por cultivar grandes quantidades dessa flor, em tons de azul, rosa e brancas, desde a década de 30. Conta-se que foi introduzida em Canela e, posteriormente, se espalhou por toda região, por Dona Luíza Corrêa, esposa de João Corrêa. A flor foi adquirida em uma viagem realizada a Petrópolis, no Rio de Janeiro, cujo clima é muito semelhante ao frio da serra gaúcha.
A Legião do Trabalho
O grupo, denominado “Legião do trabalho” foi idealizado e coordenado por Henrique Muxfeldt e era formado por moradores de Canela que, armados de pás e picaretas estavam dispostos a abrir estradas e construir o que fosse necessário para o desenvolvimento da cidade.
O mesmo Padre para duas religiões.
As famílias luteranas que chegavam a Canela não tinham uma igreja matriz para frequentar. Para os cultos, dividiam o mesmo padre com a comunidade católica, provavelmente, por serem comunidades ainda pequenas pela pouca disponibilidade de padres para a região. Os padres vinham das dioceses de Novo Hamburgo e São Lourenço da Linha Imperial e além de celebrarem as missas, também estavam incumbidos dos serviços paroquiais nos domicílios.
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