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Foto do escritorAlmanaque de Canela

A vida na casa dos Nunes ao lado da cascata

Reminiscências das irmãs Vera, Vanda e Elsa Brocker.


– O Vô Pedro, que era pai da nossa mãe, ficou com a parte da Cascata, ele e a Vó Irma. A prima Maria Elizabete da Silva Nunes, filha de Iraci e de Nilo da Silva Nunes, morou até os nove anos na casa construída pelo avô Pedro, bem ao lado da Cascata. Lembra do moinho e do trânsito de pessoas que passavam o dia por ali moendo. Na estrada que vinha da Lageana, tinha um atalho por dentro, que as pessoas vinham a pé, passavam por cima da barragem, passavam uma pinguela e chegavam até ali. E ali na estrada, tinha um campinho de futebol que era a farra do domingo. Como ali era a casa da nossa Vó Irma, domingo era sagrado, o nosso passeio na casa da vó, e como a Beth morava com a vó, a gente ia lá pra Cascata e corríamos soltas naquele pátio. Como era bom de brincar lá! A gente sabia que não era pra ir perto da cascata e não íamos. Mas sabe o que a minha mãe e o irmão dela, o tio Nilo, faziam quando eram pequenos? Eles tinham um moinho e uma usina hidroelétrica ali. E daí eles fugiam da vó, e iam lá em cima, quando tinha pouca água, e se debruçavam e olhavam pra baixo pra ver a cascata cair – isso prova que Deus existe! Tinha aquela barragem que tem lá, e cada um tinha um par de porongos, não tinham boia, mas tinham os porongos. Amarravam uma corda em cada um e botavam os porongos debaixo do braço e nadavam no rio. A gente era mais feliz e não sabia. Meu pai tinha plantação, então sempre tinha muitos funcionários em casa, muita gente que trabalhava aqui com a gente, e a gente tinha que fazer comida, lavar louça, e ninguém sentia que a infância tinha sido roubada por isso. Nunca ninguém foi assediada. Tinham muito respeito.

– O Estado mantinha um zelador no parque, porque a gente morava lá, mas a terra já era desapropriada, então a gente ajudava a juntar lata e papel, porque não passava lixeiro ali, e as pessoas sujavam tudo fazendo piqueniques. Antes o pessoal olhava a cascata mais ou menos dali onde hoje tem o observatório. Do lado tinha um atalho, e os turistas desciam pelo atalho se agarrando nos cipós. A entrada era uma cancela de madeira. O tio botava uma corrente para as vacas não caírem lá para baixo.

Na época, em 63/64, acompanharam a construção e inauguração da plataforma e do restaurante. As irmãs lembram que brincavam ali na plataforma quando nem havia corrimão de proteção.

– Mas na época a gente pensava que aquilo era aquilo e pronto!

– Na entrada foi construída a caixa d’água e bem ali, tinha uma casa de madeira que morava um tio. Então aquela casa foi transportada com um macaco, com as pessoas morando dentro, até onde está hoje, ali onde estão as lojinhas do Parque do Caracol atual. Quem morava era o Tio Ivo, outro filho de Pedro Nunes.

– E porque pararam com a produção artesanal de penas de ganso? - perguntei.

É a prima Beth quem responde:

– No começo, a gente morava lá no parque ainda. Aí começou a aumentar o fluxo de turistas, eles achavam bonito enxotar os gansos perau abaixo, então eles se perdiam. Aí depois, a gente veio morar nesta casa aqui da esquina, (da estrada do Caracol, preservada até hoje), com movimento de beira de estrada, e os gansos precisam de água que não havia ali, e tivemos que construir uma cerca, e eles já não andavam mais livres. Se faziam, também, cobertas de lã de ovelha. Hoje em dia vem tudo da China. Pra fazer uma coberta, tem que pegar a lã, lavar, desfiar, as penas também, era uma trabalheira. Tudo a gente ajudava. Mas agora não é mais assim.



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