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Foto do escritorAlmanaque de Canela

Dos primórdios a 1900

Atualizado: 5 de ago. de 2024


A Caneleira onde os Tropeiros Descansavam

O nome de Canela originou-se da caneleira, um tipo de árvore frondosa existente na região onde os tropeiros costumavam descansar. Tem o nome cientifico de Ocotea pulchella e os nomes populares: canela-do-brejo; canela-lageana, canelinha. Não tem nada a ver com a canela que serve para fins culinários que cientificamente é conhecida como Cinnamomum verum, e popularmente por caneleira-verdadeira, nativa do Sri Lanka, de cuja casca se produz o tempero canela. Não é uma afirmação cientifica, mas dizem que essa  árvore não vive solitariamente, precisa de forças amigas da natureza ao seu redor.  A da história de Canela foi cortada na época da construção da estação do trem.

 

Os Primeiros a Passar

O movimento nos Campos de Cima da Serra começou por volta de 1634, com o gado que era trazido para as Missões Jesuíticas pelos tropeiros do século XVIII (18). O comércio de bovinos,  cavalos e mantimentos era um vai e vem entre Minas Gerais, São Paulo e Colônia do Sacramento, no Uruguai. A rota era feita pelo litoral, mas ao chegar à altura da Barra da Laguna, devido às altas escarpas, tinha que ser desviado subindo a serra. Os tropeiros cruzavam a região para dar pastagem ao gado e descansar eram viagens longas de muitos meses. Alguns casavam pelo caminho, se aquerenciavam e permaneciam anos em um lugar antes de seguir viagem.



Curiosidades

Bruacas

Os tropeiros andavam com as bruacas carregadas com charque, queijo, farinhas e açúcar. Esse era o nome que se dava aos sacos ou malas rústicas de couro cru, usadas para transportar objetos, víveres e mercadorias no lombo das mulas e cavalos. O gaúcho segue usando diferentes modelos, as mais conhecidas são as “malas de garupa” feitas de lona listradas.

 

Os nomes antigos dos lugares

O Campestre Canella era um nome pouco conhecido pelos tropeiros. O Fachinal era chamado de “Guirra” como o arroio de mesmo nome e o lugar onde fica Gramado era conhecido por 28  ou  Quilombo.  Nessa época, o Caracol também não era muito conhecido, se referiam a ele como Fundos do Faxinal.

 

Vale do Quilombo

O lugar que hoje é conhecido como Vale do Quilombo, próximo ao Fachinal, era habitado por grupos de escravos fugidos de diversas estâncias da região. Viviam primitivamente, escondidos entre as matas como os índios, mas organizados em pequenas comunidades de produtores independentes.

 

PRIMÓRDIOS DE CANELA


Nascente Turístico do Rio Grande do Sul 

Foi quando conheceu sua mulher, uma descendente da Família Wasem, na Linha Nova, que o escritor Roger Stoltz descobriu que não havia registros sobre as origens da família e pouco se sabia sobre a procedência e a história de seus ancestrais. Como historiador, resolveu partir em busca de histórias orais e registros nos museus e arquivos do Estado, conseguindo fazer o livro Primórdios de Canela – Nascente Turístico do RGS - que serviu de base para todos os que escreveram sobre o passado de Canela.


1780 a 1864

Os donos do Fachinal

Desde que o tenente português Apolinário de Almeida Roriz tomou posse de uma área de aproximadamente 180 milhões de metros quadrados que abrangia parte do atual município de São Francisco de Paula e boa parte do atual município de Canela, incluindo o Campestre Canella, onde atualmente fica o centro da cidade, e o Saiqui, até a chegada da Família Wasem no Caracol, houve um intervalo de 80 anos.

Nesse meio tempo os campos do Fachinal passaram por vários donos: Joaquim da Silva Chaves, (1784), Antônio José Alves de Sá (1800),Henrique José do Amaral (1817) Cândida do Amaral e Silva (1833). Cândida começou a dividir as terras vendendo parte para o genro Francisco Pacheco de Paula Machado (1856), e doando seus bens por testamento para o filho Manoel Henrique do Amaral e para o tenente Felisberto Soares de Oliveira, casado com Vitalina Pacheco.

Antiga residência do Capitão Felisberto Soares de Oliveira construída em 1884 na Fazenda do Fachinal, onde também houve reuniões de

Maragatos durante a Revolução Federalista.


1809

Quando o Canella Pertenceu a Santo Antônio

Em 27 de setembro a Capitania do Rio Grande de São Pedro, como o Estado era chamado, foi dividida em quatro grandes municípios: Porto Alegre, Rio Grande de São Pedro, Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. Neste caso, São Francisco de Paula, o Fachinal e o Campestre Canella pertenciam a Santo Antônio da Patrulha.


 

1820/21

Primeiro Morador do Campestre Canella.

Joaquim da Silva Esteves casado com Rosa Maria do Amaral, concunhado do dono do Fachinal descobre que não existia documento oficial das terras. Se antecipa e entra com um pedido de concessão por sesmaria  do Campestre Canella para o  Império sob a promessa de tornar as terras produtivas. Foi assim que em abril de 1821, Joaquim da Silva Esteves se tornou o primeiro dono legítimo e primeiro residente do Campestre Canella.

 

1822 – Independência do Brasil

















1824 – Inicia a vinda de imigrantes alemães para o Rio Grande do Sul.

 












1835

Guerra dos Farrapos

O movimento separatista que iniciado em 1835 acabou fundando a República Rio-Grandense foi combatido pelo exército do Império Brasileiro e acabou sendo derrotado em março de 1845. Os Farrapos aceitaram o fim da guerra e a “paz honrosa”.








1864

O segundo morador do Canella

Guilherme Wasem recebe autorização de Cândida Bella da Silva para residir na casa que estava abandonada a mais de 20 anos no Campestre Canella. Wasem conserta tudo, começa a plantar e cuidar de reses para seu sustento. E pretendia viver ali para sempre. Mas não foi o que aconteceu...

Em 1867 o Campestre Canella foi vendido e Guilherme Wasem e família foram forçados a sair de sua casa e se instalaram em outro local de grande beleza da Serra Gaúcha, onde não habitava ninguém e nem havia posseiros. Guilherme tomou essas terras por ocupação primária em época mansa e pacífica. Tempos depois, Wasem solicita a medição de suas terras, o que foi feito no decorrer de quatro dias, quando dezesseis marcos foram fixados, porém, no mapa não consta a cascata por não ser necessário, por ser menos significativo que uma vertente, segundo comentários da época. Encerrando a medição foi calculada a área de 15.800.000 m².


As terras que

pertenciam a

Guilherme Wasem

são divididas entre

Canela e Gramado

pelo arroio do

Caracol. Hoje mais

ou menos 70%

das terras ficam

do lado de

Gramado, mas a

Cascata acabou

ficando para Canela.



Na América do Sul

Começa a Guerra do Paraguai

Foi em dezembro de 1864 que iniciou a guerra entre o Paraguai e os membros da Tríplice Aliança, formada por Uruguai, Argentina e o Império Brasileiro. Duzentos mil soldados brasileiros participaram do conflito, que foi o maior da história da América do Sul. Em abril de 1870 a guerra teve fim com a vitória dos Aliados.



1888

Abolição da Escravatura no Brasil

A Lei áurea foi a lei que extinguiu a escravidão no Brasil. O processo de abolição da escravidão no Brasil foi gradual, e a Lei Áurea foi precedida pela Lei Eusébio de Queirós, de 1850, que proibiu a entrada de africanos escravizados no Brasil; pela Lei do Ventre Livre, de 1871, que libertou todas as crianças nascidas de mães escravas a partir de então; e pela Lei dos Sexagenários, de 1885, que tornou livre todos os escravos com sessenta anos de idade ou mais.

 

1889

A Proclamação da República Brasileira

Também referida na História do Brasil como Golpe Republicano, foi um golpe de Estado político-militar, ocorrido em 15 de novembro de 1889, que instaurou a forma republicana presidencialista de governo no Brasil, encerrando a monarquia constitucional parlamentarista do Império e, por conseguinte, destituindo o então chefe de estado, imperador D. Pedro II, que em seguida recebeu ordens de partir para o exílio na Europa.







O Brasão de Armas do Brasil foi desenhado pelo engenheiro Artur Zauer, por encomenda do primeiro presidente da República, marechal Manuel Deodoro da Fonseca. É um escudo azul-celeste, apoiado sobre uma estrela de cinco pontas, disposta na forma da constelação Cruzeiro do sul, com uma espada em riste.


1891











1893

Início da Revolução Federalista, 

também conhecida como Revolução da Degola, durou de fevereiro de 1893 à agosto de 1895, ultrapassando as fronteiras gaúchas, chegando a Santa Catarina e ao Paraná. De um lado estavam os Federalistas ou Maragatos, identificados pelo lenço vermelho no pescoço cujo principal objetivo era tirar do poder Júlio de Castilhos e seu grupo, apontados como sendo tiranos, opressivos e cruéis. De outro os Republicanos, castilhistas, reconhecidos pelo lenço branco, para quem a República deveria ser autoritária, comandada por uma elite que propunha um desenvolvimento capitalista global para o Estado.


Chimangos, Pica–Pau e Maragatos

Os termos “maragato” e “pica-pau” surgiram em 1893, durante a Revolução Federalista, para definir as duas grandes correntes políticas gaúchas então em conflito. Os “maragatos” representavam os federalistas, liderados por Gaspar Silveira Martins, e eram identificados pelo uso de lenços vermelhos. Os “pica-paus” representavam os republicanos, liderados por Júlio de Castilhos, e sua identificação se dava pelo uso de lenços brancos. O termo “chimango” ou “ximango”, que já havia designado no Império uma facção do Partido Liberal, recebeu novo sentido a partir da publicação, em 1915, do poema épico-satírico de autoria de Ramiro Barcelos intitulado Antônio Chimango. A partir de então, foram chamados de “chimangos” os republicanos, então liderados por Antônio Augusto Borges de Medeiros.

 

A Degola

Nos 31 meses que durou, a Revolução Federalista  deixou um saldo entre 10 mil e 12 mil mortos além de uma série de barbáries e atrocidades nos campos de batalha, como a execução de prisioneiros por meio da degola. Um exemplo é o Combate do Boi Preto, ocorrido próximo a Santo Ângelo. Ali, o sangue correu solto: se os maragatos haviam degolado 23 homens, os chimangos revidaram cortando os pescoços de 250 maragatos.

 

1894











A degola chegou às terras de Wasem.

A família Wasem e algumas pessoas da região eram republicanos, castilhistas e nunca tiravam do pescoço seus lenços brancos. Com freqüência os maragatos invadiam as terras dos pica-paus e matavam seu gado. Certo dia, quando Guilherme Wasem e seu genro, (marido de Guilhermina) voltavam para casa trazendo mantimentos, foram emboscados no caminho e aprisionados pelos maragatos. Fizeram o rapaz cavar sua cova e depois o degolaram, na frente do sogro. Quando chegou a vez de Guilherme ser morto, afortunadamente passou por ali um grupo de castilhistas amigos, que dispersaram os maragatos e  Guilherme conseguiu fugir.

 

1899 – Falece Guilherme Wasem no Caracol. Talvez Guilherme Wasem tenha tido uma vida modesta, de homem simples, tal como morreu no final do século XIX, mas ele teve uma das mais belas riquezas do Estado do Rio Grande do Sul, que é a Cascata do Caracol na Região das Hortênsias.


O Cemitério do Caracol

A primeira pessoa a ser enterrada no cemitério do Caracol foi o noivo de Paulina Wasem. Ele faleceu em um acidente ocorrido no mato, enquanto preparava a terra para o plantio, derrubando árvores quando uma delas caiu sobre ele. Guilherme Wasem faleceu no Caracol, no ano de 1899. Barbara a viúva, falece cinco anos após, em 1904.

Henrique faleceu, em 1920, em casa, deixando esposa e filhos. Seu corpo foi levado de Mato Queimado para o cemitério no Caracol próximo à cascata onde foi enterrado logo acima do túmulo de seus pais. Lá também estão repousando os corpos de seus irmãos, inclusive os que moravam fora do Caracol.



 
















Novas famílias chegando

Henrique Kilian Wasem casou no mesmo ano em que seu pai faleceu e foi morar no Mato Queimado com a esposa Tereza Amalcabúrio, onde possuíam terras. Tiveram 5 filhos homens e duas mulheres, a Angélica Wasem casou com Albano Fóss e Brandina Wasem com Guierino Cristófolli.


O inventário de Wasem 

Antônio Olmiro dos Reis coleciona preciosidades que nos fazem voltar no tempo. O Inventário dos bens deixados por Guilherme Wasem para sua mulher Bárbara e para seus filhos é um deles. Foi feito na Villa e Comarca da Taquara do Mundo Novo no ano de 1900. O documento nos faz ver realidades tão longe das nossas que parecem impossíveis. Exemplos: o que hoje poderia ser escrito em no máximo 4 ou 5 páginas de computador, foi manuscrito com letras desenhadas em 20 páginas; precisou ter procuradores pois a viúva Barbara não sabia ler nem escrever em português ( os antigos colonos passavam sua vida se comunicando entre eles e poucos aprendiam a ler em português.) Wasem deixou para sua família, além da casa que viviam, duas bestas mancas, uma égua, duas potrancas e 26 Colônias de Terra com Matas. Assim está escrito no documento!


Sonhadores e Aventureiros

Quando Guilherme Wasem chegou ao Campestre Canella em 1864 perseguindo seu sonho de prosperar nestas terras e criar seus filhos, João Corrêa recém nascera,em 1863, em Santa Maria da Boca do Monte, e ainda levaria 19 anos até conhecer o mesmo lugar que também passaria a fazer parte dos seus sonhos. Foram dois bravos homens de diferentes origens e com diferentes destinos, mas que vislumbraram na exuberância das terras, tanto do Caracol, quanto do Campestre Canella, a possibilidade de um futuro brilhante para as próximas gerações.


Curiosidade

Sobre os Wasum/Wasem 

Certamente outros descendentes da  família Wasum da Alemanha (Reino da Prússia, naquela época) tenham chegado ao Brasil e se instalado em outros lugares. Cerca de 20 anos antes de Guilherme e Barbara, no navio Friedrich Heinrich que partiu de Amsterdã, Holanda, e chegou ao Rio de Janeiro em 8 de novembro de 1825 com 70 famílias de colonos e 11 solteiros também estão registrados passageiros de sobrenome Wasum.

Atualmente, a maior autoridade em genealogia dos Wasem e seus descendentes, na região,  é o pesquisador Marcelo Wasem Veeck,  Bacharel em Turismo e Direito, autor de vários livros e servidor da Prefeitura de Canela.



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