O Padre Marchesi

O Padre João Marchesi, com 41 anos de idade e 16 de sacerdócio, recém nomeado pároco de Canela, chegou à cidade a cavalo - como chegam os heróis das histórias - pela estrada do Caracol, no dia 4 de fevereiro de 1945. Dono de forte personalidade, vinha preparado para conseguir o melhor para Canela e seu povo. Contam os que o conheceram que era determinado e muito carismático e lutava sempre com garra para encontrar solução para os problemas, mesmo fora dos domínios de sua Paróquia.

Com pouco menos de um mês de sua chegada, vendo que o Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora funcionava em três prédios mal adaptados, defendendo a importância da formação intelectual e moral da juventude, resolveu mobilizar a comunidade, adquirindo o terreno, e encomendando os projetos para a construção de um moderno e grandioso edifício. E não ficou por aí. Também apoiou e atuou decisivamente na construção da nova Igreja Matriz, do Hospital de Caridade, do Monumento da Prece no Saiquí, do Ginásio dos Irmãos Maristas, do Círculo Operário e praticamente tudo o que surgia na cidade.

O Padre Marchesi era consultado para todas as questões e dava fé de tudo o que acontecia na cidade, mesmo em assuntos profanos, no cinema, por exemplo, fazia questão de assistir a todos os filmes antecipadamente para cortar as cenas que considerasse indecentes, mas apesar disso era um apoiador da modernidade pois, na inauguração do novo cinema, lá estava ele dando sua benção e fazendo seu discurso.

No dia 27 de junho de 1956, é nomeado Cônego, passando a ser conhecido como Cônego João Marchesi.

Era considerado um dos homens mais influentes de sua época. Com espírito forte e uma inteligência fora do comum, era visto como autoridade máxima de Canela, pairando quase acima do Prefeito, pois além de contar com a influência dos governantes do Estado, recebia autorização da Mitra e as bênçãos de Deus para tudo o que resolvia fazer. Afinal quem melhor do que o confessor da Paróquia para conhecer as necessidades maiores do seu rebanho?

Essa liderança durou enquanto duraram suas forças.

Já muito doente, mas firme em sua fé, participou de uma romaria, em 26 de maio de 1977, com extraordinária devoção à Nossa Senhora do Caravaggio, e compõe a prece perene, um hino à Santa do Caravaggio.

Ele faleceu no Hospital de Caridade de Canela em 1977 aos 74 anos. Nesse dia os sinos tocaram de hora em hora e seu corpo foi velado na Igreja Matriz onde está sepultado. A rádio Clube só tocou músicas clássicas e toda a cidade parou em sua homenagem.