Por Adriane Brocker Boeira Guimarães
Cansados da falta de oportunidades para conseguir alcançar o sucesso econômico na Alemanha, mas, por outro lado, esperançosos, graças às prósperas informações recebidas dos colonos que haviam migrado para o Brasil, a família de Guilherme Wasem decidiu dar um novo rumo para suas vidas: deslocar-se da aldeia de Dörrebach Hunsrüsh, na Renânia, Alemanha, para o Brasil. O novo país acenava-lhes com a promessa de se tornarem proprietários de terras economicamente independentes, sob a condição de que o núcleo familiar fosse responsável pelo preparo da terra, plantio e cultivo dos produtos agrícolas.
Foi assim que Guilherme Wasem, sua esposa Bárbara, a filha Christina, com pouco mais de um ano e um bebê, com poucos meses de vida, emigraram da Alemanha para o Brasil. Na mesma viagem, vieram a mãe de Guilherme, Maria Elisabeth Stroh, já viúva, e seus irmãos: Jacob, Cristina, Elisabeth e Oswald, este, casado com Maria, e mais os dois filhos do casal, Phillip e Josephina. Para fazer a travessia marítima, a família precisou, antes, ir até o porto de Hamburgo para, só então, embarcar no Brigue Antônia que os conduziria ao Brasil.
Nessa viagem heróica, ainda eram utilizadas embarcações à vela, com pouco espaço para gente que emigrava (era calculado um determinado espaço cúbico por pessoa). Eram, em geral, veleiros de três mastros, muitas vezes munidos de canhões contra a pirataria, que dependiam de bom tempo para realizar essa viagem em três meses.
Na viagem, ocorreram problemas como comida e água potável racionadas e falta de higiene. Por tais motivos, o bebê de Guilherme e Bárbara veio a adoecer e faleceu em meio à viagem. Enrolaram-no em um pano branco e atiraram ao mar. E, apenas o seu olhar e a sua tristeza viram aquela “trouxinha” branca distanciar-se cada vez mais da embarcação, até desaparecer. Além disso, a viagem não foi das melhores, pois levaram 6 meses para chegar ao Brasil. O mau tempo soprava o veleiro para trás, e isso ocasionou os três meses de atraso.
Após as turbulências e tempestades em alto mar, finalmente, chegaram ao Rio de Janeiro, em junho de 1847. Após semanas de espera, a família Wasem viajou para o Rio Grande do Sul pela costa, chegando no porto da cidade de Rio Grande. De lá, ainda teriam de enfrentar mais uma viagem até a colônia alemã de São Leopoldo. Ao desembarcar, em 19 de julho, Guilherme foi registrado como lavrador e foi encaminhado para a Colônia Campo Ocidental, hoje Hamburgo Velho, onde se instalou com a família, vivendo ali durante quase 20 anos. Naquela Colônia, ele sempre foi pobre, pois o que recebia pelo trabalho era suficiente apenas para o sustento. Ele e Bárbara tiveram mais 5 filhos: Pedro, Guilherme Filho, Henrique Kiliam, Paulina e Guilhermina.
Certa vez passou por cima da Serra durante uma viagem e se encantou por determinada região (hoje Região das Hortênsias), ficando maravilhado com o lugar e seu clima, muito parecido com o de sua cidade natal. Com a morte de sua mãe em setembro de 1863, pareceu-lhe não ter mais obstáculos para então seguir em frente e se aventurar com a família Serra acima, já que não se encontrava satisfeito com sua vida em Hamburgo Velho.
Nos primeiros meses de 1864, Guilherme resolveu de imediato que era no Campestre Canella que desejava ficar. Lá, Cândida Bella da Silva lhe concedeu casa e campos para tomar conta. No entanto, os Wasem viveram durante poucos anos naquelas terras, pois a dona vendeu o campo para Joaquim Gabriel de Souza. Logo, vendo-se obrigado a sair de lá, Guilherme deslocou-se com a família mais para o norte, instalando-se numas terras onde se encontrava uma linda cascata entre matas virgens. Na época não havia grande interesse dos posseiros em ter cascatas e cachoeiras. De nada lhes valia uma cascata; preferiam, antes, possuir terras para cultivar.
Guilherme Wasem obteve um bom espaço de terra: sem posseiros anteriores, dividido entre arroios, por ocupação primária, em época legal, mansa e pacífica. Foi construindo seu novo lar próximo à cascata com o arroio do Caracol (na localidade onde hoje há um sítio com açude que ainda conserva o antigo poço de Guilherme). A própria cascata foi batizada de Cascata Wasem. Lá, ergueram casa e celeiro para depósito e viveram e trabalharam durante muitos anos. Os filhos de Guilherme, ao casarem, deixaram a casa do pai e foram para outras regiões ou construíram outras casas no Caracol.
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