Por Eduardo Bueno
Guilherme Wasem nasceu Wilhelm Wasum, na aldeia de Dörrebach – Hunsrück, na Renânia, nas proximidades do rio Mosela, no antigo reino da Prússia, atualmente Alemanha. Veio ao mundo em 1822, no mesmo ano em que o Brasil se tornava independente. E se independente se tornou, foi muito graças à bravura, à perspicácia e à inteligência de uma mulher nascida não muito longe de Wilhelm – embora em circunstâncias diametralmente opostas às dele. Com efeito, a princesa Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo viu a luz no palácio de Hofburg, em Viena, 25 anos antes e a 800 quilômetros de distância do vilarejo onde Wilhelm Wasem nasceu.
E, no entanto, apesar de ambos estarem distantes – na geografia, no calendário e no “berço” – pode-se afirmar, sem exagero ou medo de errar, que foi por influência direta da futura imperatriz do Brasil que Wilhelm Wasum iria virar Guilherme Wasem. Afinal, em maio de 1817, a princesa austríaca casou-se com o príncipe português D. Pedro e em novembro daquele ano mudou-se para o Rio de Janeiro. E então, em setembro de 1822 – quando Wilhelm talvez já tivesse nascido, ou estava prestes a nascer (pois não se sabe a data exata, apenas o ano) –, Leopoldina assinou, no Rio de Janeiro, o decreto da Independência do Brasil e o enviou para o marido, D. Pedro, que estava às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo. Ali, o jovem príncipe desferiu o brado que ainda hoje ressoa na história do Brasil: “Independência ou morte”. Um mês e cinco dias mais tarde, em 12 de outubro de 1822, eles se tornaram imperador e imperatriz do Brasil. E, já no ano seguinte, Dona Leopoldina deu início a um projeto de incentivo à imigração alemã/prussiana/austríaca para o Brasil.
A primeira leva chegou ao país em 1824 e foi instalada na antiga Real Feitoria do Linho Cânhamo, no Rio Grande do Sul, cujo nome foi logo mudado para São Leopoldo, em homenagem à imperatriz. Tantas foram as promessas não cumpridas pelo governo brasileiro e tão poucas e parcas as verbas orçamentárias disponíveis para o projeto que, entre 1828 e 1830, tanto as autoridades alemãs quanto as brasileiras suspenderam o fluxo migratório. Em seguida, foram as turbulências da Revolução Farroupilha que, entre 1835 e 1843, impediram o reinício do ciclo. O processo só foi retomado em 1846 e, já no ano seguinte, justo nas cercanias de São Leopoldo, na vizinha Novo Hamburgo, a família Wasum – já “rebatizada” Wasem –, iria se instalar, dando início à sua saga gaúcha e brasileira.
Mas, desde o início, foi uma trajetória acidentada. E somente após muito sofrimento – as misérias e incertezas de uma Prússia dividida e em permanente conflito, a morte do pai, a decisão de emigrar junto com toda a família, uma jornada marítima turbulenta que levou o dobro do tempo previsto, a morte de um filho pequeno em alto mar, as promessas não cumpridas em Hamburgo Velho e a morte da mãe – Guilherme Wasem (como ele acabou sendo registrado ao desembarcar no Rio de Janeiro em junho de 1847), vislumbrou um novo futuro.
Dessa vez, no topo: lá nos altos da Serra Gaúcha.
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