Wasem ficou em Hamburgo Velho por 17 longos e sofridos anos. Lá, teve mais cinco filhos com a mulher Bárbara. Sempre foi pobre, e o fruto de seu trabalho na lavoura mal dava para o sustento. Assim, com a morte de sua mãe, em 22 de setembro de 1863, Guilherme decidiu mudar de vida outra vez. Nos primeiros meses do ano de 1864, deixou para trás as ondulosas planícies do vale do Rio dos Sinos e subiu a serra com a família. Foi então que vislumbrou uma verdejante clareira recoberta de grama em meio à mata de araucárias: era o Campestre Canella. Decidiu que seria aquele o local no qual passaria o resto de sua vida.
Só que o Campestre, é claro, já tinha dono. Wasem obteve a permissão da proprietária para instalar-se na casa ali existente. Tornou-se assim o segundo morador do local que hoje fica no coração de Canela. Mas não um morador permanente, pois em 1867 o Campestre foi vendido e se iniciou o processo que redundaria na expulsão de Guilherme do local que ele tanto amara. E expulsão a mão armada. Mas foi então, após tantos meandros, que o destino acabou por conduzi-lo ao lugar certo.
Seguindo a trilha na mata que avançava sai do Campestre em direção ao noroeste, os Wasem acabaram chegando à borda de um perau densamente florestado, do alto do qual uma fabulosa cascata despencava para o fundo de um vale que, mais tarde, seria chamado de Lageana. A zona, remota e desocupada, era conhecida como “os fundos do Faxinal”, e a cascata mais parecia uma lenda tão poucos eram aqueles que já a tinham vislumbrado. Eram também terras devolutas – ou seja, terras públicas ainda desocupadas. Não tinham dono, com exceção, é claro, dos últimos remanescentes da tribo Caingangue, senhores originais daquelas paragens e que há mais de século vinham sendo expulsos delas.
E foi ali que Guilherme Wasem decidiu se instalar. E seria justamente ali, e por isso, que Canela viveria seus primórdios – bem antes de o Campestre tornar-se o núcleo da cidade que hoje encanta os turistas.
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