Ah, os apelidos! Sempre eles. Cada um com seu recado.
Eles aparecem “do nada”, embora saibamos sua origem (chega ser engraçado), pois todo apelido tem “uma razão de ser”, uma verdade. Ou maldade, conforme o grau.
Eles nascem da intimidade (ou adversidade) com uma pessoa e mostram-se de várias formas: engraçados, pesados, criativos, carinhosos, gentis, amigáveis, estranhos... E, via de regra, apontam alguma particularidade da pessoa: chato, alegre, alto, baixo, gordo, magro, careca, etc. Os apelidos, está provado, tem uma regra infalível: não gostou, o apelido pegou!
Hoje, com certeza, em sua maioria, seriam encarados como bullyng...
Aqui em Canela, o pesquisador Antônio Olmiro dos Reis, de há muito, vem de colecionar essas preciosidades, entre as quais, separamos algumas “pérolas” dessa cultura popular.
Os engraçados: Mulher bala, Trabuco, Chimia, Beiço, Saracura, Aleluia, Sabugo, Alemão preto, Televisão, Arrepiado, Paciência...
Os pesados: Zé da maconha, Zé da bota, Vagina rural, Sem futuro, Trepadeira, Porra louca, Courinho, Jacu, Brocha...
Os criativos: Molinha, Omar da luz, Cabeça chata, Faiz tudo, Socó, Fedêncio, Xerox, Cento e dez, Traiz bóia...
Os carinhosos: Preta, Teca, Pompom, Tio pequeno, Babá, Bambi, Didi, Juca, Kika, Neca, Chefe...
Os gentis: Meio kilo, Caco, Boneco, Nenê, Guto, Dudu, Bonito, Biriva, Samuca, Pirulito...
Os amigáveis: Zoinho, Tchê, Magnata, Peninha, Baixinho, Canela, Cuíca, Carruíra, Lili, Maninha, Careca, Nêgo, Lindão...
Os estranhos: Cueca, Guaiaca, Luz baixa, Luiz do Buraco, João cadela, Nego Rico, Vaca louca, Pica Fumo...
Muito comum, também, em Canela, era a maneira de pronunciar alguns nomes. Principalmente de famílias e/ou sobrenomes, uma vez que, dado a estrangeirismos ou difícil pronúncia, caíam em geral, em engraçadas corruptelas.
Boelter – Pilda...
Bohrer – Bóra...
Brocker – Proca... Pruca...
Dieterich – Tiririca...
Meyer – Maia...
Schaeffer – Chêfa, Chêfinha...
Stacke – Estaca...
Wortmann – Vorte...
Ainda, como curiosidade, segundo o pesquisador, existia em Canela um “Francisco”, de apelido “Chico”, mas o chamavam de “Geraldo”. E, também – a nosso ver, o mais original de todos – o apelido atribuído a uma pessoa encarregada de cuidar de vacas e cavalos soltos nas estradas. Seu apelido: “cerca-viva”! Tudo isso, mostrando a criatividade e espontaneidade do povo.
Nota de Rodapé: Antônio Olmiro dos Reis anotou uma relação de aproximadamente 700 apelidos verdadeiros e usados por pessoas de Canela. Os informantes e colaboradores foram: Pinto, Tampinha, Pompom e os barbeiros Lourenço, Denardi e Tôco.
Pedro Oliveira
Pesquisador, tradicionalista Canela/RS
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