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Uma cascata para chamar de sua

Atualizado: 7 de mar.


Por Eduardo Bueno


Foto: Rita Souza
Foto: Rita Souza

Essa nuvem de pingos, de bátegas, de gotas esvoaçantes reflete, como nos cacos de um espelho partido, uma miríade de raios solares multicores, formando uma sequência de arco-íris em miniatura – milhares deles. São como lágrimas coloridas pairando sobre uma paisagem selvagem e verdejante. Estarrecido e atônito, literalmente boquiaberto nesse vale retumbante, o visitante se deixa embalar e envolver por uma sucessão de visões e devaneios. E se põe a refletir no que haverá de ter pensado o primeiro ser humano que, após árduos anos de labuta e decepções, ousou chamar aquela cascata de sua. E que deu – ainda que por um período – seu nome a ela: Cascata Wasem.

               

Sim, depois de ter sido e antes de voltar a ser “do Caracol”, essa estrepitosa queda d'água foi chamada de cascata Wasem. E não parece improvável que, contemplando-a de seu úmido e lodoso sopé, ao fundo da arena pedregosa onde a queda d'água se atira com a fúria de quem persegue um destino inevitável, Guilherme Wasem tenha mergulhado em conjecturas e quimeras, vendo projetar-se na tênue cortina multicor daquelas gotículas esvoaçantes, toda sua vida  girando num caleidoscópio de imagens cambiantes, estilhaços de memórias, momentos de esperança frequentemente corroídos pela desilusão, sonhos desfeitos como respingos esborrachando-se de encontro à firmeza dos rochedos.


Uma queda, seguida de uma nova queda. Até que a luz voltasse a rebrilhar.


Afinal, não restam dúvidas de que, até ter uma terra para chamar de sua – e justamente aquela terra, junto com aquelas águas e aquela cascata –, Guilherme Wasem levara uma existência errante e inconstante, repleta de altos e baixos, como se imitasse a trilha que conduz ao sopé da cascata. Aliás, se sua vida fosse um rio, correria sinuosa como o arroio Caracol, que desenha seus volteios lá em cima, na porção superior do planalto, antes de despencar no abismo. O abismo no fundo do vale à beira do qual Wasem enfim encontraria um lar e poderia fincar raízes, depois de ser escorraçado dos campos altos.

O Vale da Lageana, onde ele renasceu – e onde Canela viveria seus primórdios.

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