A vinda da família Travi para Canela se deu através do meu avô Basílio Travi, na época um madeireiro que explorava os pinhais nativos que eram abundantes na região. Isto foi na década de 1920 e ele acabou fixando residência na então incipiente cidade, após explorar a região e as suas riquezas. Aqui, juntamente com minha avó Luiza, tiveram e criaram seus seis filhos e cinco filhas, sempre atrelado às atividades ligadas a extração da araucária e seu beneficiamento. Basílio Travi faleceu de forma precoce, em 1946, aos 60 anos.
Meu pai, Fortunato Travi, era madeireiro e comerciante e casou-se com minha mãe Lourdes Urbani Travi, filha do meu avô Ernesto ---------Urbani e minha vó Otília, que tinha uma oficina de conserto de locomóveis. Eu nasci em 1951 e com 16 anos fui, com toda a família, para Porto Alegre onde meu pai abriu uma madeireira onde vendia, além de tábuas de araucária, outros materiais de construção. Estudei na PUC-RS e me formei em Biologia e na UFRGS me tornei Mestre em Ecologia. Um dia tomei uma decisão arrojada: retornei para Canela em 1989 por sentir que necessitava da minha terra natal, queria viver e trabalhar aqui e devolver a ela, na forma de trabalho educativo e de conscientização, o que tanto lhe fora tirado pelos meus ancestrais. Assim larguei um bom emprego de professor de Biologia na PUC e vim com minha família – esposa, na época, e nossos dois filhos que aqui cresceram, freqüentaram escolas locais e se formaram em Veterinária – minha filha Bruna, e em Biologia, meu filho João Pedro. Vim abrir mercado de trabalho aqui e comecei fazendo o que mais gosto e sei: levar pessoas interessadas a lugares de grande beleza natural e interpretar a natureza que se apresentava. Criei assim os Passeios Ecológicos onde eu orientava grupos na região dos Aparados da Serrae falava sobre as belezas raras e ainda preservadas da natureza do local, mas o mercado era muito incipiente, restrito e difícil, havendo poucos que davam valor a este tipo de atividade.
O Projeto Lobo Guará
Seguindo a busca de um trabalho na área, vislumbrei uma possibilidade de desenvolver um projeto ecológico mais permanente no Parque do Caracol e, após gestões, reuniões, apoios políticos e ajustes, nasceu o Projeto Loboguará, dedicado a Educação Ambiental visando oferecer a informação sobre o ambiente natural para os visitantes do Parque, em 1992. Ali criamos o inédito Centro de Intepretação Ambiental na então casa da família Nunes, que ficou pertencendo ao Parque quando ele foi criado. Os visitantes passaram a contar com um local de informação permanente e com profissionais biólogos durante 7 dias por semana, 365 dias do ano onde desfrutavam de informações sobre a fauna, flora, geologia, geografia e história da região. Foram 15 anos dedicados a causa e que elevaram a qualidade da visitação dos turistas e de milhares de estudantes de todo o Estado que para aqui acorriam em busca de cursos orientados oferecidos no Parque. Trilhas autoguiadas com placas de identificação de mais de cinquentas espécies de árvores, mirantes e placas de interpretação da paisagem estavam por todo o Parque durante este período, satisfazendo a curiosidade dos visitantes e aumentado o seu conhecimento sobre nossa natureza, o que resultava sempre num maior respeito pelo elemento natural. Não se preserva o que não se conhece.
Interrompidos os trabalhos no Parque do Caracol, por desinteresse da administração pública da época, o projeto Loboguará seguiu com seu lema de despertar nas crianças e adolescentes o gosto e o respeito pela natureza, atuando em outros parques e municípios da região sendo que até hoje, com quase trinta anos de ações ininterruptas, constitui-se num programa pioneiro no Rio Grande do Sul em termos de ensino prático de Educação Ambiental e Ecologia.
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